Mergulho em Água Doce

Normalmente o mergulho é associado ao mar.
Mas o mergulhador que só mergulha em água salgada está certamente perdendo diversas oportunidades de mergulhar, algumas vezes em pontos que são freqüentemente citados entre os melhores mergulhos do mundo.
O mergulho em águas doces é bastante popular nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, começando agora a ser descoberto em outros paises.
Locais como rios, lagos, represas e pedreiras podem se mostrar excelentes pontos de mergulho.
Muitas vezes eles estão mais próximos dos grandes centros populacionais (evitando longas viagens para se chegar ao mar) ou possuem atrativos especiais, como visibilidades surpreendentes ou naufrágios em perfeito estado (já que a água doce permite uma melhor conservação dos objetos).
Na pior das hipóteses, lagos próximos de casa podem ser excelentes locais para treinamento.
Nos Estados Unidos os Grandes Lagos (junto à fronteira com o Canadá) estão entre os locais favoritos para mergulho em naufrágios, já que desde o século passado são umas das mais importantes vias de navegação daquele país e estão em uma região cujo clima favorece acidentes com embarcações (são centenas de naufrágios catalogados e ainda muitos por serem descobertos).
A região central da Flórida é um verdadeiro oásis para os mergulhadores especializados na exploração de cavernas.
Países como a Suíça formam a maioria de seus mergulhadores em águas doces; até mesmo a antiga União Soviética explora turisticamente (dentro do possível...) o mergulho em água doce, já que em seu território encontra-se o lago Baikal (o maior do mundo, com mais de 600 km de extensão) que abriga mais de 2.500 espécies biológicas diferentes, das quais 1.500 são endêmicas (só podem ser encontradas naquele local).
No Brasil, o principal ponto de mergulho em águas doces é a região de Bonito, no Mato Grosso do Sul. O mergulho em furnas e pedreiras (e algumas vezes em cavernas) é relativamente comum nos estados centrais, como Goiás e Minas Gerais e algumas represas possuem até mesmo restos de cidades submersas, como na represa de Igaratá em São Paulo.
Geralmente iniciado a partir de terra (dispensando o uso de um barco), o mergulho em águas doces normalmente oferece menos dificuldades que o mergulho no mar.
No entanto cuidados especiais são necessários com relação a altitude, visibilidade, correntes, temperatura e poluição, já que estes fatores apresentam faixas de variação muito maiores que as encontradas no mar.

Altitude
O ponto mais importante a ser observado é com relação à altitude.
As tabelas de descompressão normalmente utilizadas (como as baseadas nas tabelas da marinha norte-americana) foram criadas tomando como base o fato de o mergulhador encontrar no retorno à superfície uma pressão ambiente de 760 mmHg (pressão atmosférica normal ao nível do mar). No entanto, a maioria dos lagos e represas encontram-se bem acima do nível do mar, muitas vezes a mais de 1.000 m de altitude.
Com o aumento da altitude, a pressão atmosférica diminui gradativamente (cerca de 8 mmHg a cada 100 m), atingindo 380 mmHg a 5.500 m de altitude (metade da pressão ao nível do mar).
Isto obriga os mergulhadores a realizarem ajustes nas tabelas durante o planejamento do mergulho.
Ignorar estes ajustes em um mergulho relativamente fundo em um lago a 1.500 m de altitude significam um caso de doença descompressiva na certa !
Normalmente este ponto é discutido em um curso de especialidade de mergulho em altitude, um treinamento essencial para aqueles que pretendem mergulhar a mais de 300 m de altitude.

Visibilidade
Outro passo é conhecer mais sobre mergulho em águas com pouca visibilidade.
Os rios da região de Crystal River (EUA) possuem em algumas épocas do ano uma visibilidade de cerca de 100 m e na região de Bonito é comum encontrar águas com mais de 40 m de visibilidade.
No entanto, muitas vezes a visibilidade em lagos, represas ou rios com muito sedimento pode variar entre 5 m e absolutamente zero
Todas as agências certificadoras oferecem cursos de especialidade para mergulho com visibilidade limitada e a maioria inclui boas noções de navegação subaquática, muito útil em algumas situações.
Visibilidade boa não é problema para ninguém, mas no Brasil é muito comum o mergulho em águas com pouca visibilidade e é importante estar preparado para isto. Todas as agências certificadoras oferecem cursos de especialidade para mergulho com visibilidade limitada e a maioria inclui boas noções de navegação subaquática, muito útil em algumas situações.
A principal causa de problemas de visibilidade é a existência de sedimento em suspensão na água. Isto pode acontecer em rios (principalmente nos de maior volume) ou em represas, onde o lodo do fundo é facilmente levantado por mergulhadores menos experientes.
No caso dos rios com correntes não há muito o que fazer, mas em águas paradas o principal cuidado é ao nadar, evitando-se que o movimento das nadadeiras levante o lodo do fundo. Para isto, valem as técnicas do mergulho em cavernas: manter sempre as pernas acima do tronco (inclinando-se ou dobrando os joelhos) ou nadar utilizando movimentos laterais das pernas ao invés do movimento tradicional.
Em águas com muita suspensão, lanternas são praticamente inúteis, já que acabam ofuscando o mergulhador com a luz refletida nas partículas em suspensão.
Correntes
O mergulho em rios com correnteza exige cuidados adicionais, já que a corrente pode jogar o mergulhador contra obstáculos submersos ou leva-lo para uma posição onde a saída da água seja difícil ou até mesmo impossível.
Antes de iniciar o mergulho, avalie a intensidade da corrente; muitas vezes não é possível conduzir o mergulho contra a correnteza e é preciso planejar um local de saída diferente do de entrada.
Em geral, as correntes são mais fortes na superfície e no centro dos rios, sendo mais fracas no fundo e junto às margens. Caso o mergulhador seja apanhado em uma corrente, o importante é não perder a calma e nadar em direção à margem buscando um ponto de saída, já que normalmente é impossível nadar contra a corrente.

Poluição
A poluição em rios, lagos e represas é muito mais comum que a poluição do mar, principalmente devido ao menor volume de água.
Infelizmente, diversas indústrias ainda despejam produtos químicos em nossos rios e um mergulho em águas contaminadas pode ser bastante perigoso ou até mesmo fatal sem o equipamento adequado.
Antes de iniciar um mergulho em um local desconhecido, verifique com as autoridades locais o estado da água e se existem na região (ou rio acima) indústrias químicas ou estações de tratamento de esgotos que possam contaminar química ou biologicamente a água.
Na dúvida, não mergulhe !

Outra dicas
Em lagos e represas, antes de entrar na água observe o relevo da superfície, muitas vezes ele é uma boa indicação do tipo de fundo que se irá encontrar.
Mais que no mar, deve-se tomar cuidado com o tráfego de barcos, em especial de lanchas rápidas e jet-skis (comuns em represas).
Bóias de sinalização podem ajudar, mas seu significado normalmente não é conhecido e é importante que ela não esteja presa ao mergulhador e sim levada por ele (bóias já foram recolhidas como um achado por lancha, barcos e etc.Com cabo e tudo).
Por fim, vale uma observação sobre lastreamento: como a água doce possui uma densidade 2.5% menor que a salgada, o mergulhador pode retirar cerca de 20% do peso do seu cinto de lastro normalmente utilizado no mar para continuar com flutuabilidade neutra.